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Dra. Lúcia Chnee

Iniciei minha juventude acreditando que seria bailarina profissional, entrei na dança popular russa e posteriormente na clássica sendo que aos quatro anos de idade pela primeira vez fui ao palco já como solista, me conectava com o divino e dançava com a alma, o “Tarab”, levando o céu ao público.

Aos 15 anos recebi um convite para pertencer ao corpo de baile no Canadá, meu pai foi o instrumento do universo para apontar outro caminho. Interiorizando-me, ouvi um chamado para levar ao outro o céu em forma de cura pela medicina, em especial ajudar as mulheres a serem mães. Meus familiares não conseguiram perceber a conexão das duas atividades não me viam médica, e sim artista, quando encontrei resistência familiar. Decidi prestar vestibular para medicina no segundo semestre

do terceiro ano do colegial. Entrei com 17 anos na faculdade

em Maio do ano seguinte na Universidade de Taubaté retornando a cidade em que morei nos primeiros quatro anos

de vida e tinha prometido a mim mesma que um dia voltaria.

Nunca fui apaixonada pela ciência pura e abstrata, ansiava pelo

contato prático com o paciente, por isto sofri muito nos primeiros

três anos de faculdade, quando via apenas teoria. Entrei em crises várias vezes querendo desistir. Durante o dia estudava e a noite sonhava que estava dançando. No segundo ano entrei em uma escola de Jazz e comecei a dar aulas de clássico, era formada pela “Royal Academic of Dance”, diplomas assinados por “Margot Fontein”, levando a proprietária da escola propor me ficar responsável pela escola, pois teria que mudar para São Paulo. Recusei prontamente vendo a forte possibilidade de largar a faculdade. Assim cheguei ao quarto ano, quando comecei a ter aulas com o chefe da cadeira em Obstetrícia quem vinha semanalmente de São Paulo sendo professor da USP, Dr. José Eduardo Nestarez, profissional que plantou no meu coração a semente e os desafios de uma longa jornada na especialidade que começava no ano de 1986.

Durante este caminho tive dúvidas em relação à Psiquiatria, justamente pelo meu interesse na alma humana, mas prontamente iniciei meu contato prático com a Ginecologia-Obstetrecía meu chamado a favor da maternidade gritou mais alto. Nasci dia 10 de Maio, no dia das mães, e a elas me dediquei.

Iniciei estágio em São Paulo no antigo Hospital da Mulher hoje conhecido como Perola Bynghton, referência do Hospital das Clinicas, no plantão do Dr. Nestarez, quem me ensinou pessoalmente os primeiros procedimentos, e me colocou a ensinar os estagiários da USP. Desenvolvi o meu primeiro trabalho cientifico na especialidade sob sua orientação. Foram anos difíceis, ficava duas noites sem dormir seguidamente a cada 15 dias para vir de Taubaté e estagiar em São Paulo. Não bastando, um dos professores da cadeira de Cirurgia Geral de Taubaté colocou-se contra minhas faltas quinzenais ameaçando-me ser reprovada e não me formar. Quando comuniquei ao Prof. Nestarez, este não abriu mão do estágio em Obstetrícia no Hospital em São Paulo, ficando entre os dois Professores, resolvi correr o risco e continuar os plantões em São Paulo. Uma semana antes da formatura não sabia se iria me formar, já tinha feito três exames e não era aprovada, até que finalmente na véspera da formatura fui aprovada por intervenção de meus colegas que falaram com o chefe da Cadeira de Cirurgia Geral, quem não tinha conhecimento desta postura do responsável pelo nosso ano, e depois de uma prova oral, não só me aprovou, como pediu desculpas pelo colega.

Após a formatura, entrei na residência em Taubaté, ao final da qual tínhamos que escolher uma subespecialidade e sermos arguidos por uma mesa de cinco professores. Escolhi Esterilidade Conjugal, a mais difícil, ainda que questionada se fosse o que eu realmente desejava, pela possibilidade de novamente ser reprovada. Fiz questão em manter, pois considerava ser o mais interessante. Ao final da prova oral ensinava os professores às atualidades que desconheciam, fui aprovada com louvor e considerada a melhor mão cirúrgica que passou pela especialização.

Em virtude disto fui convidada a ser assistente do Chefe da Cadeira, Dr. Nestarez, em sua clínica particular já em São Paulo com quem tive a honra de trabalhar pelos primeiros três anos na Capital, estagiando ao mesmo tempo na Santa Casa em Esterilidade Conjugal com o Dr. Nilson Donadio, profissional mais considerado na subspessialidade na época. Ao término do estágio onde estudei profundamente diagnóstico de cavidade uterina, cursei especialização em endoscopia (Laparo e Histeroscopia) com o Dr. Caio Parente Barbosa na faculdade do ABC aonde me tornei assistente de ensino.

A exemplo e espelho de meu professor Nestarez, desejei ingressar no mestrado da FMUSP, porém naquela época não podia mencionar o nome de meu professor, por razões políticas internas ao H.C., fui então com meu Currículo Vitae embaixo do braço sem indicação de outro profissional fui me apresentar à chefe da pós graduação na especialidade do Hospital da Clinicas, Dra. Angela Maggio da Fonseca, com quem tive a honra de trabalhar por doze anos em seu setor. Para cavar a possibilidade de uma aprovação na pós graduação estagiei gratuitamente por 4 anos inicialmete desenvolvendo e publicando trabalhos científicos nacionais e internacionais em diagnósticos precoce de doenças endometriais.

Quando finalmente estava apta a me candidatar a uma vaga no mestrado, engravidei aos 34 anos, e o pai de meu filho se envolvendo com outra mulher aos dois meses de gestação levou me assumir uma gravidez independente. fui aprovada no concurso para mestrado pelo meu currículo imbatível e números de trabalhos publicados. Estava diante de três desafios: a gestação independente, mestrado no HC e dívida de meu apartamento. Abracei os três desafios, e ao término de quatro anos estava com um filho lindo, quitei o apartamento e me formei Mestre com um trabalho inédito, nível Doutorado que inclusive foi publicado nos EUA. Este estudo da cavidade uterina me fez desenvolver não só a Histeroscopia, mas também o Ultrassom. Como faltava profissional na especialidade de ginecologia o Prof. Pinotti comprou a aparelhagem de Ultrassom e me colocou como responsável pelo setor no andar de Ginecologia, realizando exames para todas as teses em questão.

Retornei a dançar, estava muito bem e realizada, seria minha reestréia no palco. Na véspera sofri um acidente caindo de uma altura de quatro metros quando meus calcanhares viraram pó. A dona da escola havia convidado todas as alunas para assistir meu ensaio geral e verificar o retorno de uma bailarina com o talento com o qual eu dançava e que retornaria ao palco após 11 anos, porém, ainda não era a hora. Recebi a orientação de um especialista em calcâneo que eu deveria ficar sem pisar com os dois pés por seis meses para um dia poder voltar a dançar.

Assim fiquei, retornando por este período para casa de meus pais. Foi quando me conectando com o mundo Angelical escrevi uma proposta de estudo para Doutorado e fui aprovada a distancia, via internet, único caso na história do HC. Este Doutorado me proporcionou criar e provar a eficácia de uma nova técnica em tumores de ovário pelo ultrassom. Meus resultados foram divulgados pela Folha de São Paulo numa matéria muito bem escrita repercutindo por toda a impressa nacional e internacional. Hoje, recebo no meu consultório pacientes de todo o país e de fora procurando pelo tratamento que tenho o prazer de realizar.

Após o Doutorado comecei a atuar também como Perita Judicial do Estado de São Paulo em erros médicos, onde atualmente pertenço a Comissão de Ética e Científica do IMESC.

Em 2012 passando por exames de rotina foi diagnosticado 100% de obstrução na principal coronária, sem entender como eu ainda estava viva submeteram me em 48 horas a cirurgia de reconstrução vascular quando ganhei três pontes coronarianas e fiquei fisicamente destruída. Na UTI desenvolvi edema pulmonar bilateral estava com todas as costelas fraturadas e inversão de 90º da quinta vértebra lombar com fratura dos quatros pedículos de sustentação e indicação cirúrgica de coluna. Em estado grave visitei a passagem para outro mundo. Reconheci que meus propósitos tinham se cumprido e fui recebida numa paz irrecusável e sedutora. Optei por retornar com novas propostas utilizando a bagagem anterior, as quais ainda estou descobrindo. Hoje tenho a certeza e segurança do meu valor na terra e da prioridade em ser feliz.

Para tratamento da coluna desafiando a conduta médica não me submeti à cirurgia (Colocação de quatro pinos e duas placas) e após três meses de fisioterapia retornei a dançar. Passei a criar coreografia em fusão de estilos e ao apresentar um tango árabe retornando ao palco depois de 22 anos fui convidada a fechar um show de profissionais. Com muito orgulho este ano fui convidada a dançar na Rússia e participar de uma competição Internacional em Abril de 2015, de onde trago honrosamente uma medalha de ouro de primeiro lugar!!! 

Em novembro de 2013 fui a Universidade de Coimbra concluir pós graduação em Perícia Judicial.

Recentemente assumi a Administração de uma Clínica Multidisciplinar, onde trabalho desde 2005.

Na fé da presença divina dentro de nós atuo com maior compreensão e sensibilidade utilizando todos os meus conhecimentos e experiência para passar o céu (que visitei) para o outro, como desejei há trinta anos atrás.

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