
Sem cirurgia
Técnica inovadora permite substituir cirurgia por punção de cisto de ovário pelo ultrasom
Não existem estatísticas oficiais, mas previsões afirmam que uma parcela relevante da população brasileira feminina em algum momento da vida sofre com a incidência de cisto no ovário.
O mal freqüentemente é tratado por meio de cirurgias, mas um estudo recente desenvolvido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo afirma que 73,2% dos casos de tumores benignos podem ser curados com uma intervenção médica bem mais simples, a punção.
A técnica em que nenhum corte é feito, trata o problema aspirando o tumor com uma agulha especial, inserida no ovário por meio da vagina. O tratamento foi bem-sucedido em 52 das 71 mulheres que participaram da pesquisa. Apenas em 7% dos casos a a cirurgia não pôde ser substituída como primeira opção e, em 19,8%, as mulheres foram submetidas à punção mas tiveram reincidência do tumor e por isso acabaram submetidas à cirurgia.
Enquanto a cirurgia requer um dia de internação, um gasto que pode variar entre R$ 7 mil a R$ 10 mil, além do desgaste da recuperação da paciente, que dependendo da técnica pode durar até 15 dias, a punção além de custar em média R$ 700, dura apenas 10 minutos, com recuperação imediata. “Após o procedimento, a paciente troca de roupa e sai andando do consultório, como se nada tivesse acontecido”, afirma Chnee.
A idéia de estudar o assunto surgiu durante um período em que Lúcia operou inúmeros casos de tumores no ovário. O fato de operar todos os cistos levou a médica a refletir sobre a possibilidade de tratar alguns daqueles casos com outras técnicas que não a intervenção cirúrgica.
Essa experiência e a leitura de diversos estudos, entre eles uma pesquisa clássica desenvolvida pelo médico grego Eriksson, consultor do Departamento de Ginecologia da Universidade de Atenas, que afirma que 66% das cirurgias por tumores ovarianos seriam desnecessárias, Chnee decidiu estudar o assunto, que acabou resultando em sua tese de doutorado. “Queria questionar a necessidade das cirurgias. E, de fato, em casos distintos, elas podem ser substituídas”, afirma.
A pesquisa não teve reconhecimento apenas no Brasil. O doutorado, que sugere a substituição da cirurgia pela punção em alguns casos de tumor no ovário, será provavelmente publicado no Green Journal, o mais importante periódico científico americano de ginecologia e obstetrícia.
“Foi simples e rápido”
A facilidade da técnica da punção, que evita a internação hospitalar e garante à paciente a comodidade de estar recuperada logo após o procedimento, agradou a várias pacientes da médica Lúcia Helena que participaram da pesquisa de doutorado.
A costureira Maria Lourdes foi uma das beneficiadas. “”Foi simples e rápido”, diz a paciente, que tinha um cisto benigno no ovário. Maria Lourdes afirma que não sentiu dor após a punção. “Apenas uma cólica, que rapidamente passou”.
Outra participante da pesquisa, a dona-de-casa Suely Reis Alves, tinha seu dia-a-dia afetado por causa do cisto. “Por causa da dor no abdômen, deixava de fazer várias coisas. Nem meu neto eu podia segurar nos braços”. Graças à eliminação do cisto, a dona de casa pretende voltar a fazer coisas que antes não conseguia. “Penso em voltar a trabalhar como babá”.
Perguntas e respostas
– O que é um cisto?
Cistos são tumores líquidos ou semi-sólidos que podem ser benignos ou malignos.
– Como saber se tem ou não um cisto?
Muitas vezes, os cistos só podem ser detectados por exames, como a ultra-sonografia, por não causarem nenhum tipo de sintoma. Em alguns casos, o tumor pode causar dores abdominais, mudanças no ciclo menstrual, infertilidade e até aumento do abdômen.
– Causas freqüentes da aparição de cistos.
Normalmente, a formação do cisto é causada por desequilíbrios e disfunções hormonais. Como reação, o corpo forma os tumores. Em outros casos, a formação pode ser causada por fatores genéticos ou por excesso de peso.
Artigo publicado na Revista Época: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG79945-5856,00.html